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ARTE & RESISTÊNCIA

ZIMBA GROOVE

   As Batucadas da Praça da República e do Mercado de São Brás em Belém do Pará, organizadas nas redes sociais, mobilizavam centenas de pessoas ao redor dos tambores repletos de referências às religiões afro-brasileiras e da música negra, livre, sem palcos, aberto e gratuito. É nesse contexto que surge o grupo Zimba Groove, formado pelos músicos paraenses Jefferson Moraes (no vocal), Wendell Rayol (violão), Douglas Dias (percussão) e Ney Trindade( baixo).

 

   O grupo foi criado em 2015 e mistura o que eles chamam de “música de preto” e traz referências de estilos musicais diversos como da soul music, black music, reggae, samba rock, samba de roda, afoxé, ijexá e carimbó. As letras das músicas tratam do empoderamento negro, falam do povo preto, da ocupação das ruas, do genocídio dos jovens negros da periferia, o empoderamento da mulher negra e outros temas. O nome “Zimba Groove” faz menção à uma brincadeira de roda que os mestres de carimbó de Santarém Novo, no interior do Estado do Pará, nomeiam de “Zimba” e foi usado por artistas e pelo designer amigo do grupo,Mael em outro trabalho de iconografia do carimbó.

   O vocalista do grupo, Jefferson Moraes, disse em entrevista ao Diário do Pará que a proposta das apresentações é “ocupar” diferentes ambientes artísticos, inclusive praças e espaços públicos da cidade. “A ocupação urbana é fundamental, a cidade é carente disso. Tu encontras samba, mas samba de roda e roda de carimbó não encontra. Eu acho que as pessoas estavam sedentas disso. E o protagonismo é do artista. Esses artistas estão fora dos ciclos editais, ao lado dos poderosos, para ocupar teatros, mas estão fazendo. Existem bandas que não tocam nas rádios, mas tocam nos batuques. É uma onda underground”.

   O Zimba Groove preza e trabalha pela valorização dos ritmos regionais, das misturas musicais e culturais da história afro-brasileira. É um grupo dedicado  a fazer da arte um espaço de resistência, em nome da luta e do empoderamento do povo negro, da mulher, do fim do genocídio de jovens negros da periferia, e da ocupação dos cantos isolados e praças.

Fonte: Via DOL 

Moonlight: Sob a Luz do Luar

  “Todo crioulo é uma estrela” (“Every nigger is a Star”). Essas são as primeiras palavras que se ouvem em Moonlight. A frase é, na realidade, o verso da música homônima de Boris Gardiner, artista negro, que ironicamente usa o termo pejorativo para inflar a autoestima da própria comunidade. Mas engana-se “de verde-amarelo” aquele que pensar que se trata, aqui, de um filme de gueto – embora a produção seja, sim, um importante instrumento de voz para os afrodescendentes.

   Escrito e dirigido por Barry Jenkins (do pouco conhecido Medicine for Melancholy), a partir de uma ideia de uma peça, o filme é o que, em cinema, se chama de um verdadeiro estudo de personagem. Apelidado de “Little” (pequeno), o tímido Chiron (Alex Hibbert, de um olhar acuado de cortar o coração) mora numa comunidade pobre da Miami da explosão do crack dos anos 1980 e, desde novo, sofre com os colegas de escola que o tacham de bicha (“faggie”) – embora nem ele mesmo, aos dez anos, saiba o que isso quer dizer (não é que o garoto dance Donna Summer no intervalo do recreio, o que, mesmo assim, não justificaria a atitude da turma).

  Quando chega na adolescência (quem assume é Ashton Sanders, numa performance mais exagerada, menos sutil), a introspecção aumenta na mesma proporção do bullying. Somam-se mais dez anos a essa história e vemos Chiron como “Black” (aqui entra o ex-atleta Trevante Rhodes, ótimo em sua estreia no cinema), já líder do tráfico local. O que não muda, ao longo das três fases em que o filme divide a vida do personagem, é a busca por autoconhecimento – algo universal, inerente à vida de qualquer um, independente da cor da pele ou de com quem você se deita.

  As questões de raça e preferência sexual, no entanto, ganham contornos ao mesmo tempo simples e complexos quando transpostas para um universo essencialmente masculino. Essa é a grande sacada da obra. Se há ainda um resquício de estereotipagem na mãe solteira sobrecarregada de trabalho que usa a droga como escape (e há) –  um excelente trabalho de Naomie Harris, a Tia Dalma da franquia Piratas do Caribe –, o mesmo não se pode dizer do personagem de Mahershala Ali. O intérprete do Boggs de Jogos Vorazes vive uma espécie de figura-paterna para o jovem Chiron, alguém que, apesar do trabalho “fora da lei”, mostra que pode, sim, ser uma presença responsável e atenciosa.

  Sem um padrão, a câmera é fluida (destaque para o rodopio em torno de Mahershala logo na sequência de abertura) e, quando sossega, reluta em pousar em um enquadramento óbvio (e sempre bem iluminado). O mesmo se pode – e deve – dizer da trilha que, variando da música clássica a Caetano Veloso (sim!), também recusa a trivialidade.   

  Reduzir Moonlight a um filme de nicho é cometer um erro tão grave quanto o fizeram os bullies que rotularam Chiron. Não falta nuance, não falta franqueza emocional, não falta solidão. Falta, talvez, uma catarse para tamanho sofrimento reprimido.

 

  • Filme visto no 41º Toronto International Film Festival, em setembro de 2016.

  • Vencedor do Oscar na categoria Melhor Filme em fevereiro de 2017. 

Fonte: Via Adoro Cinema - Colunista Renato Hermsdorff

Nina Simone

  Cantora. Mulher. Negra. Nina Simone tinha plena consciência de sua posição social e usou todo seu talento e carisma para criar uma das grandes personas da história da música, da resistência pessoal, da identidade negra.

  Eunice Waymon é o nome de batismo. Nina Simone é o de guerra. Nina mudou de nome ao começar a cantar em cabarés escondida de seus pais. Saiu da Carolina do Norte para ser imortalizada no mundo cantando jazz, blues, folk, soul. Com sorriso e carisma maiores do que seu imenso coração, a diva negra é a voz da famosa canção Feeling Good.

  Nina era absolutamente comprometida em mudar o mundo à sua volta. Foi ativista dos direitos civis desde pequena. Em seu primeiro recital - aos 11 anos de idade - solicitou que seus pais fossem deslocados das últimas fileiras da platéia para perto do palco, já que não tocaria sem vê-los, o que contrariava os costumes racistas da época em que aos negros eram destinados somente os últimos assentos. Aos 17 anos de idade Nina não foi aceite no Curtis Institute of Music - um conservatório de música clássica - e ninguém tirou da cabeça dela que a rejeição acontecera por ser uma mulher negra. Mas não foi apenas o racismo que transformou a vida de Nina Simone. Casada com um policial, Nina também chegou a ser espancada pelo marido.

  O amor, a escravidão, o ser mulher, a resistência, a persistência. Tudo isso cantando por uma voz profunda. Seja compondo ou interpretando, Nina fala sobre a verdade. A sua verdade. E não há nada mais bonito, e sofrível, do que isso: estar de acordo com aquilo em que se acredita verdadeiramente. Nina não foi um grande ser humano somente por lutar contra um mundo racista e machista, mas também - e principalmente - por cantar com o coração, por cantar com verdade tudo aquilo em que vivia. Por fazer aqueles que têm o imenso prazer de escutá-la serem transportados para o mundo dessa maravilhosa cantora e acreditarem em suas angústias. Um cantor é uma contador de histórias, um ator, e deve fazer quem o escutar acreditar no que se canta. E pouquíssimos tiveram - ou têm - a capacidade que Nina Simone teve de levar-nos ao seu mundo, de nos fazer viver e sofrer com ela.

  Sua linda e poderosa voz se calou em 2003, mas seu espírito e seu charme permanecerão vivos dentro de quem tem o privilégio de compartilhar um mundo de sorrisos e lágrimas com ela. Basta ouvi-la.

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   Karol Conka revolucionou a música e reforçou a resistência negra no cenário musical do Brasil. Com 29 anos, músicas de grande sucesso e posições políticas polêmicas, ela busca o empoderamento de mulheres negras e da importância do amor próprio e autoestima.

   Mas nem sempre sua vida foi assim, cheias de confiança. Após lançar o clipe da música Maracutaia, Karol deu uma entrevista para um programa da TV paga no qual falou sobre o racismo que sofreu durante a sua infância, dentro de sua escola. Foi um relato triste que mostra só um pouco do que sofrem milhares de crianças negras no país.

  "Meus pais me viram tentando ‘descolorir' a pele com água sanitária", disse a cantora. Segundo ela, tanto os professores quanto os alunos de sua escola faziam comentários racistas contra ela. A rapper também afirmou que este foi o mesmo motivo pelo qual seu pai e sua tia decidiram sair da escola.

  "A professora zombava do meu cabelo e falava que eu era amaldiçoada por ser negra", comentou Karol. "E não era só uma professora, eram vários", continuou. Assista ao vídeo: 

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